terça-feira, novembro 08, 2011

Água de todos - Iniciativa Legislativa Cidadãos


A Campanha “Água é de todos”, entrou numa nova fase. Foi apresentada e lançada a Iniciativa Legislativa de Cidadãos “Protecção dos direitos individuais e comuns à água”, cujo conteúdo visa estabelecer na legislação portuguesa o direito à água e ao saneamento; reorientar os princípios da utilização e administração da água, dando prioridade à necessidade humana, à segurança, ao interesse comum, à equidade de benefícios, adequação ecológica e preservação da água e impedir a privatização da água e dos serviços públicos, reservando estas actividades apenas a entidades de direito público.

De acordo com a Lei nº 17/2003 de 4 de Junho, diploma que enquadra e regula a apresentação da Iniciativa Legislativa de Cidadãos, são necessárias no mínimo 35 mil assinaturas de cidadãos eleitores, uma Comissão representativa no máximo de 10 pessoas, que neste caso, será composta por um membro de cada uma das 10 organizações promotoras.

Relativamente às assinaturas, chama-se a atenção para o seguinte:

É necessário escrever o Nome Completo (bem legível);

A Assinatura, conforme o documento de identificação;

Nº do BI / Cartão de Cidadão;

Nº de Eleitor;

Data de nascimento (dia/mês/ano).

ATENÇÃO: os dados têm de estar completos e legíveis, passíveis de verificação pelos serviços Administrativos da Assembleia da República. Só podem subscrever "os cidadãos regularmente inscritos no recenseamento eleitoral em território nacional". É sabido que a maior parte das pessoas não sabe nem tem regularmente consigo o nº de eleitor, todavia isso não deve ser impeditivo de assinar, pois o nº de eleitor pode ser obtido posteriormente, conjugando o Nome Completo/Nº BI e Data de Nascimento.

O documento para recolha de assinaturas pode ser descarregado da página da Campanha.

http://www.aguadetodos.com

Para além dessa possibilidade, é possível proceder ao envio de vários exemplares, pelo que solicitamos às entidades subscritoras que nos digam o nº que desejam, a morada completa e o contacto da pessoa da organização/entidade/movimento responsável (enviar pedido para: geral@aguadetodos.com).

A entrega das folhas preenchidas (cada folha não precisa de estar completamente preenchida com assinaturas, mas claro que o objectivo é recolher o máximo que se conseguir), deve ser feita através do seu envio para a sede da Campanha, mas pode também ser efectuada através de organizações aderentes, cuja listagem actualizada está disponível, sendo conveniente confirmar com a entidade que escolheu, se esta está de facto a fazer recolha de subscrições e se assegura ou pode assegurar o seu encaminhamento para a sede.

Com os melhores cumprimentos.

A Comissão Promotora

DEFENDER JUNTOS A ÁGUA DE TODOS


I

Em Portugal foram removidas as barreiras constitucionais e legais à espoliação do bem comum que é a água e dos direitos das pessoas à sua fruição, em benefício de grandes interesses económicos privados.

A privatização de facto verifica-se simultaneamente em várias frentes, que vão da captação da água na natureza, passando pelas margens e os leitos dos rios, pelos recursos pesqueiros marinhos, pelas infraestruturas públicas como portos e barragens, até aos serviços públicos de abastecimento de água e saneamento de águas residuais.

O aumento dos preços da água, seja em tarifas, seja em taxas e sobretaxas, acarreta consequências directas em vários sectores económicos como o agro-pecuário, as pescas, a indústria, a produção energética e os transportes marítimos e fluviais. Efeitos muito agravados na produção e nos preços de bens essenciais como os alimentos e a electricidade afectando toda a população.

A aceleração da política de privatização anunciada pelo Governo, com ênfase para a privatização do Grupo Águas de Portugal S.A. (AdP) – operação iniciada em 2008 com a venda da empresa Aquapor - que controla já as origens e captação de água da maior parte do País e numerosos sistemas completos de abastecimento de água e saneamento, é ainda mais grave no quadro de aplicação das políticas do FMI/CE/BCE que causam o empobrecimento generalizado da população e protegem o lucro das grandes empresas do sector conduzindo a aumentos brutais da factura da água e dos impostos e eliminando alternativas como fontanários ou captações próprias.

Para além de o Estado vender ao desbarato um património comum valiosíssimo e essencial, entregaria às multinacionais o controlo das componentes essenciais do abastecimento de água e saneamento, tornando dependentes centenas de autarquias cujas competências nesse domínio foram já concessionadas em sistemas multimunicipais a empresas do grupo AdP, num monopólio supramunicipal de extensão e poder sem paralelo, mesmo em países onde a privatização é já uma realidade.

A factura da água sobe de forma insuportável com a privatização, com a preparação do negócio para a subordinação ao objectivo de maximização do lucro, com a indexação de outras prestações à utilização doméstica da água e com a aplicação de diversas taxas e o eventual aumento do IVA.

Estes aumentos agravam a pobreza e promovem a desigualdade social. Depois de reduzidas ao extremo, quase de privação, outras despesas, uma percentagem cada vez maior da população deixa de poder pagar a factura da água e é-lhe cortado o fornecimento. Bloqueadas as alternativas de acesso à água, reduz-se drasticamente a salubridade e higiene, aumenta o recurso a soluções sanitariamente precárias instalando-se as condições para a proliferação de doenças epidémicas.

II

A água é um bem comum, parte integrante e fundamental do constante movimento e evolução da natureza, determinante da composição atmosférica, do clima, da morfologia, das transformações químicas e biológicas, das condições de toda a vida na Terra.

É insubstituível nos ciclos geo–químico-biológicos e nas suas funções de suporte à vida e ao bem estar humano. Não pode ser produzida, é móvel e reutilizável; as interferências no seu percurso, as formas de utilização e a poluição podem prejudicar, limitar ou inviabilizar a reutilização.

O ciclo da água liga todos os seres vivos. As funções ecológicas, sociais e económicas da água são essenciais e têm de ser protegidas e asseguradas pelo Estado, garantindo a sua fruição comum e equitativa à população presente e às gerações futuras.

A evolução do Homem, a sua sobrevivência e desenvolvimento só foram possíveis pelo aprofundamento do conhecimento da água, pela aprendizagem de processos de garantir o seu acesso quotidiano, por uma interacção constante com a água.

A água, nas várias fases do seu ciclo, nas diversas formas de presença e movimento na natureza, assim como as infra-estruturas construídas que permitem a interacção entre os homens e a água são condomínio comum nos processos produtivos, aos quais são insubstituíveis, e no uso do território, cuja fisionomia, fertilidade e habitabilidade condicionam.

O direito à água, reconhecido pelas Nações Unidas como um direito humano fundamental, faz parte do direito à vida. Todas as pessoas têm direito ao abastecimento de água e ao saneamento no seu local de residência, trabalho e permanência habitual, com a proximidade, quantidade e qualidade adequadas à sua segurança sanitária e ao seu conforto.

A água, os serviços de água, os recursos vivos aquícolas e as infraestruturas de fins públicos são património comum, que não pode ser alienado, arrendado nem concessionado, assim como não pode ser lícita a privação da água nem qualquer atribuição de privilégios ou concessão de direitos exclusivos sobre as águas ou serviços de água.

Os serviços de águas têm de ter o objectivo de garantir de facto a universalidade de fruição do direito à água. Para isso, têm de ser de propriedade e gestão públicas e sem fins lucrativos, sendo necessário o reforço do investimento na manutenção, modernização e ampliação dos sistemas de água, saneamento e tratamento de águas residuais, melhorando a elevação dos níveis de cobertura, a qualidade de vida das populações e a protecção das nossas águas e aquíferos.

Nem a água nem os serviços de águas podem ser objecto de negócio, mercantilização ou fonte de obtenção de lucros, sendo que a sua utilização deve ser hierarquizada pela necessidade humana, segurança, interesse comum, maior número de beneficiados e adequação ecológica.

III

Em todo o mundo, a luta pelos direitos à fruição da água, contra a privatização, tem conseguido inúmeras vitórias reconquistando os serviços públicos.

Também em Portugal é possível travar a ofensiva privatizadora alertando e mobilizando as populações.

Vençamos por antecipação, antes de atingir as situações extremas que levaram outros a mobilizar-se!

Defendamos a água que é de todos, recuperemos a que nos foi roubada!

Pela água de todos e para todos, juntos venceremos!


Organizações subscritoras